O RÁDIO SALVA VIDAS
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Nutro uma paixão incondicional pelo rádio. Sim, é aquele antigo veículo de comunicação que apesar da imagem obsoleta continua presente em muitos ambientes. Acordo todos os dias às 6h. A primeira coisa que faço depois de dar um “cala boca” no despertador é ligar o radinho que consome mensalmente quatro pilhas alcalinas.
No banho e ao longo do chimarrão na leitura dos jornais, o equipamento é companheiro das primeiras notícias do dia. Poderia manter usar o aplicativo do celular. Mas trata-se de um hábito arraigado, difícil de abandonar.
Coleciono histórias de ex-colegas de profissão, os “pilotos de microfo-ne”. Trabalhei pouco tempo em rádio – em emissoras como a Independente (de Lajeado) e Gazeta (AM e FM, de Santa Cruz do Sul), mas foi suficiente para ser fã incondicional deste veículo de massa.
Há poucos dias participei da abertura do 26º Congresso Gaúcho de Rádio e TV, realizado em Canela. Reencontrei velhos profissionais que labutam no segmento há muitas décadas, fruto de intensa dedicação, talento e vocação. Enquanto ouvia os discursos lembrei-me de uma história contada elo amigo jornalista e radialista Fernando Weiss, da rádio “A Hora”, de Lajeado.
Depois de um programa ao vivo realizado em Encantado durante a tra-gédia das enchentes que assolaram o Vale do Taquari em setembro, Weiss contou que, depois de uma longa jornada ao microfone, orientando moradores sobre a subida do rio Taquari, ele foi ao supermercado comprar o jantar.
Ao chegar no estacionamento foi abordado por um homem de uns 50 anos. Primeiro ele fez a tradicional pergunta:
– Tu és o cara da rádio que dá as notícias da enchente?
Respondida a pergunta, surpreendentemente o interlocutor se abraçou ao radialista. E entre lágrimas confessou:
– Tu salvou meus pais! Muito obrigado! Eles têm mais de 80 anos, es-tavam sem luz, sozinhos e sem celular. Aí apelaram para o radinho de pilha. Ouviram a notícia da subida rápida da água e saíram correndo de casa que duas horas depois, foi arrastada pelas águas – contou o ouvinte.
É apenas um relato entre milhares que colhi durante a visita que fiz, a trabalho, aos quatro municípios mais afetados pelas enchentes no Vale do Taquari. Meu amor pelo rádio só aumentou porque se trata de um veículo único.