Neurologista Dr. Diego Dozza: A dor oncológica: existe solução?
A dor associada ao câncer é um desafio significativo que afeta muitos pacientes, podendo atingir até 70% dos casos em estágios avançados. Entretanto, é importante entender que a dor pode se manifestar desde o início da doença em alguns tipos de câncer, como os que afetam o pâncreas, cabeça e pescoço. A dor oncológica pode ter diversas origens, incluindo o próprio tumor, os tratamentos (medicamentos ou cirurgias) e o impacto psicológico da doença. Com os avanços na medicina, mais pessoas estão sobrevivendo ao câncer. No entanto, cerca de 10% desses sobreviventes enfrentam dores intensas que afetam significativamente sua qualidade de vida.
O câncer é uma questão de saúde pública global, com aproximadamente 15 milhões de novos casos diagnosticados anualmente no mundo e mais de 8 milhões de pessoas falecendo devido à doença a cada ano. Estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos revelam que entre 56% e 82% dos pacientes não recebem tratamento adequado para a dor. Uma revisão sistemática mostrou que um terço dos pacientes não recebeu analgesia apropriada para o nível de dor que experimentavam.
O tratamento da dor oncológica deve ser abrangente, envolvendo uma equipe multidisciplinar e incluindo o apoio familiar. As estratégias de tratamento podem incluir farmacoterapia (uso de medicamentos), métodos intervencionistas, reabilitação, psicoterapia, neuromodulação e terapias integrativas. O tratamento medicamentoso geralmente segue uma “escada analgésica”, começando com analgésicos simples e anti-inflamatórios, progredindo para opioides fracos e, finalmente, opioides fortes. É importante ressaltar que este é apenas um esquema básico e que o tratamento específico do câncer, incluindo radioterapia e quimioterapia, deve ser orientado pelo oncologista.
Os opioides (como codeína, morfina, metadona, fentanil e oxicodona) são frequentemente necessários no tratamento da dor oncológica. Estas medicações são potentes, mas apresentam potenciais efeitos colaterais e risco de dependência. Por isso, devem ser administradas sob supervisão de especialistas. Para reduzir a dependência de opioides, outras estratégias terapêuticas podem ser empregadas, como a combinação com outras medicações, analgesia do neuroeixo, bloqueio de nervos e neuromodulação invasiva.
Opções mais avançadas incluem o implante de bomba intratecal de fármacos, neurólise do plexo celíaco, nervos esplâncnicos ou hipogástrico, ablação por radiofrequência ou crioablação e, menos frequentemente, o implante de neuroestimulador medular. A escolha do tratamento depende da localização do tumor e dos objetivos terapêuticos. A infusão intratecal de medicações através de bombas implantáveis tem mostrado resultados promissores, com melhora significativa no controle da dor, menos efeitos colaterais e uso de doses menores de medicação. Por exemplo, a morfina intratecal usa uma dose 300 vezes menor que a via oral. Este método permite a administração precisa e contínua de medicamentos diretamente no sistema nervoso.
É importante destacar que, atualmente, não é mais aceitável dizer a um paciente que “precisa se acostumar com a dor”. Os avanços na tecnologia medicamentosa e nos tratamentos cirúrgicos oferecem novas possibilidades para melhorar a qualidade de vida dos pacientes que convivem com dor oncológica. Lembre-se: o uso crônico e abuso de medicações podem trazer complicações à saúde, como danos ao fígado e rins. Por isso, o acompanhamento médico especializado é fundamental.
Como sabiamente disse Tim Hansel: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” Com as opções de tratamento disponíveis hoje, é possível minimizar o sofrimento e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes oncológicos.
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