VIVER E MORRER
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Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Uma das mais dolorosas agruras de envelhecer é a frequência de ir a velórios. Assim que a notícia do falecimento de uma pessoa querida chega, um processo envolto em diversos sentimentos se apodera do nosso interior.
A primeira sensação – e muito dolorosa - é de arrependimento. Contrição por não ter procurado o ente querido, por deixar passar tantas oportunidades de reencontro e por ignorar, entre outras coisas, a data de nascimento. Para evitar este último sentimento, conto com uma implacável e “dinossáurica” agenda de papel. Ali anoto aniversários, falecimentos e fatos relevantes da minha rotina que merecem ser lembrados.
Outra tristeza envolve a inevitável comparação com a nossa idade em relação à expectativa de vida, o tempo que nos resta neste plano terreno. Costumo dizer que, aos 64 anos, estou mais perto da “bandeirada de chegada” do que “do podium”. De imediato buscamos cuidar da saúde. projetar viagens, pensar em organizar encontro de velhos amigos, localizar o telefone de parceiros de vida.
Semana passada tive duas perdas significativas. Primeiro, de uma tia de 92 anos, professora a vida toda, voluntária incansável. Adorava enviar whatsapp. Às vezes pedia para mandar somente áudio. “Acho que estou ficando velha e os olhos reclamam”, explicava. Morreu no final da tarde de quinta-feira, deitada no sofá, vendo tevê. Sem dor ou sofrimento.
Antes, um grande amigo e repórter fotográfico partiu aos 63 anos. Parceiro de jornadas na Zero Hora. Quis o destino que, décadas depois, acolhesse meu filho em Brasília. Ano passado, refugiou-se no sítio de Viamão. “Vou curtir os filhos, aproveitar a vida e os amigos”, contou. Liguei dias antes da morte para cumprimentar pelo aniversário.
Viver de forma saudável exige cuidados com corpo e mente. Evitar o sedentarismo, curtir velhos parceiros de jornada são remédios sempre úteis. Presenciar a partida de amigo machuca alma, coração, espírito. Nos leva a reflexões sobre a nossa insignificância neste mundão de Deus.
As dores da velhice são muitas, onipresentes. Nesta seara da vida, faz bem lembrar de Chico Xavier: “Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito”.