E se 2024 se repetir?*

_Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Bastou uma semana de chuvas ininterruptas para sobressaltar os gaúchos. Principalmente a população dos municípios mais impactados pela enchente histórica de 2024 passou por dias de enorme apreensão. Enxurradas, raios e trovões trouxeram dolorosas lembranças do ano passado.
No Vale do Taquari, a maioria dos 36 municípios foi castigada por três cheias em sete meses: setembro e novembro de 2023 e maio de 2024. Uma possível repetição do fenômeno recente traria consequências impensáveis.
Passado o grande susto da semana passada, a conclusão é de que o Rio Grande do Sul foi alvo – mais uma vez! – de um festival de promessas resultantes da demagogia e do proselitismo político que sequer respeitou o sofrimento de milhares de famílias que tiveram perdas materiais e humanas.
Cobradas publicamente, as autoridades municipais, estaduais e o governo federal adotaram o famoso “jogo-do-empurra”. Ao invés de assumir suas (ir) responsabilidades, os agentes públicos preferiam isentar-se e colocando “a culpa nos outros”. Ou na burocracia. Tudo, menos reconhecer que se omitiram, assim que o assunto “enchente” deixou as manchetes da mídia.
Ninguém desconhece que a realização de obras de infraestrutura impacta no fortemente no orçamento público. Por isso, é preciso obedecer ao rito legal, através da realização de licitações e outras práticas públicas para garantir a lisura das compras. O que revolta – mas não surpreende – é a demora que caracteriza a execução de serviços básicos para proteger as comunidades de uma nova tragédia climática.
A briga de beleza, protagonizada pela vaidade política, somada ao fato de termos eleições em 2026, forjou um coquetel de irresponsabilidade sem precedentes na história do Estado. É bom lembrar que as chuvas mais severas ainda estão por vir. Basta vasculhar os livros de histórias ou os registros meteorológicos recentes. Recém adentramos ao inverno, estação que traz consigo instabilidade constante, associada à baixa temperatura e umidade.
O que será dos gaúchos se ao invés de uma semana termos 10, 12 dias de chuvas inclementes? A maioria das grandes obras, aquelas que poderiam garantir um mínimo de segurança a centenas de municípios, sequer saíram do papel. No Brasil, nem a tragédia possui o condão de derrotar os interesses político-eleitorais.