• 10 de junho de 2025

Dia Mundial das Abelhas: uma lembrança do impacto das ações humanas

 Dia Mundial das Abelhas: uma lembrança do impacto das ações humanas

Projetos da UFSM buscam conscientizar a população acerca das necessidades de proteger os insetos

O Dia Mundial das Abelhas é comemorado nesta terça-feira, 20 de maio. A data, criada em 2017 pela Organização das Nações Unidas (ONU), busca, de certo modo, celebrar a vida das abelhas, lembrar a população da importância e conscientizar sobre os perigos da perda desses insetos. 

O esloveno Anton Janša é conhecido como um dos pioneiros da apicultura moderna. Responsável por diversas inovações na área e por propagar a prática, ele nasceu no dia 20 de maio de 1734 e também é homenageado pela data. O apicultor, assim como estudiosos dessa prática atualmente, representou a busca pela melhora na qualidade de vida e produtividade das abelhas. 

Nem todas as abelhas possuem ferrões, a produção de mel entre espécies é diferente e cada tipo de abelha pode atuar em plantas e ambientes distintos. Por isso, os estudos e práticas com as abelhas são divididos em Meliponicultura e Apicultura. 

Com ou sem ferrão?

A criação de abelhas Apis, como as abelhas europeias ou abelhas-africanizadas, é conhecida como apicultura. Esses insetos que, muitas vezes, são temidos por suas ferroadas, não são do Brasil. A espécie é principalmente trazida da Europa e da África e possui ferrão. A Apis mellifera é uma das espécies mais utilizadas para o comércio com a produção de mel, cera e própolis. 

Já a criação de abelhas Meliponini, sem ferrão, é chamada de meliponicultura. Típicas do Brasil, os meliponíneos costumam construir seus ninhos em cavidades de troncos de árvores, formigueiros abandonados ou galhos de árvores. Existem, aproximadamente, 250 espécies de melíponas no Brasil, enquanto 24 delas são nativas do Rio Grande do Sul. 

Os cuidados e manejos com as abelhas Apis é diferente dos necessários para as abelhas melíponas. Por isso, projetos da UFSM trabalham para compartilhar conhecimento sobre as abelhas e evitar o cuidado impróprio ou extinção dos insetos. 

“Vamos conversar sobre abelhas?”

Durante a pandemia, Fernanda Cristina Mello teve a ideia de iniciar um projeto de extensão. Ela é professora na área de Apicultura e, após participar de grupos de apicultores e meliponicultores no WhatsApp, percebeu que haviam muitas dúvidas sobre o tema. “Eu senti grande aflição em ajudar de uma forma mais efetiva”. Assim, nasceu o “Vamos conversar sobre abelhas?”, iniciativa da UFSM coordenada por Fernanda. 

Com um grupo formado por acadêmicos e meliponicultores desenvolveu-se a Associação de Meliponicultores da Região Central do Rio Grande do Sul (AMel- RCG) em 2021. Hoje, a AMel tem cerca de 45 associados – “são pessoas interessadas na parte biotécnica, produtiva, mas também aqueles que querem preservar o meio ambiente e outros que são interessados em ter uma ou duas colmeias para animais de estimação”, exemplifica a professora. “Café com Mel” é o encontro realizado pelo grupo a cada dois meses para conversar sobre abelhas. Ali, as oficinas acontecem e as dúvidas dos meliponicultores são sanadas.

O Simpósio de Apicultura e Meliponicultura (SimMel) é um fruto do AMel. Com a colaboração da EMATER e APISMAR, os eventos ocorreram em 2023 e 2024. “A gente fez um evento de dois dias com expositores, tinha cerca de 230 pessoas, a grande maioria sendo produtores para conversar sobre abelhas”, conta Fernanda. 

“Nosso propósito maior com a AMel é fazer com que as pessoas, que queiram criar ou não, identifiquem que são abelhas e que não devem ser mortas, por isso que a nossa ação começa na educação infantil”. Segundo a professora, ensinando as crianças sobre a importância das abelhas e mostrando que algumas não machucam, o conhecimento pode chegar dentro de suas casas. 

Atualmente, três bolsistas e um voluntário atuam no projeto. Desenvolver habilidades com o manejo de abelhas é um dos benefícios de integrar a iniciativa e, segundo a professora, é um diferencial entre os futuros profissionais, que podem auxiliar produtores a melhorarem o rendimento e o cuidado de suas colmeias.

Para participar dos encontros é necessário acompanhar as redes sociais do projeto. No Instagram @lapimel_ufsm ou nos grupos de WhatsApp os encontros são divulgados. Segundo a coordenadora, as vagas são preenchidas rapidamente. 

“Abelha na Praça”

Com o intuito de introduzir meliponários, colmeias de melíponas, urbanos em locais públicos de Palmeira das Missões, o “Abelha na Praça” se desenvolveu. Ao colocar os meliponários em praças e parques, o zootecnista e coordenador do projeto, Danilo Freitas da Silva, acredita que promoverá educação ambiental e preservação das abelhas. A inspiração vem de Curitiba, onde meliponários já foram instalados. 

A ação da UFSM de Palmeira das Missões ainda não teve início, mas já possui planos para o futuro. Assim que os meliponários estiverem instalados, as visitações poderão começar. Feitas com o auxílio de participantes da iniciativa ou não, as visitações serão abertas para a população de Palmeira das Missões.

A escolha de exposição das abelhas sem ferrão é motivada pela segurança dos visitantes, mas vai além disso. “É também por conta das melíponas serem espécies nativas, que as pessoas podem ter em casa, e para ajudar a preservar as espécies que acabam tendo maior risco de extinção”, conta Danilo Freitas.

As abelhas para a exposição podem ser fruto de resgates, de recuperação com iscas ou pela compra de outros produtores. Segundo o coordenador, é comum receber chamados para retirar abelhas meliponas ou Apis de locais que não são adequados para elas, o que ajuda a não causar a morte ou o mal cuidado das abelhas. 

Para auxiliar com a alimentação e produção de mel das abelhas, o projeto também plantará vegetais melíferos, cerca de 500 mudas de 30 espécies. A maioria dessas plantas são de época, como o cosmos, a margarida e o girassol. Além disso, plantas medicinais também podem ser cultivadas, a depender de doações e contribuições. O Abelha na Praça planeja capacitar 160 meliponicultores até 2028. 

As visitações poderão ser livres ou guiadas, quando um voluntário ou bolsista explicará sobre os meliponários e mostrará como as colmeias são por dentro para o público. Para participar como visitador bastará ir até os locais onde os meliponários serão instalados. Já para realizar a visita guiada, será preciso agendar com os contatos fornecidos pelo projeto. 

O Abelha na Praça trabalha junto dos órgãos públicos da cidade. A Prefeitura de Palmeira das Missões, com a Secretaria do Meio Ambiente, pode auxiliar com a construção dos meliponários e implementação nos ambientes públicos. 

Os locais previstos para a implementação, segundo o coordenador Danilo, serão: a Praça Nassib Nassif (Praça da Prefeitura), a Praça do Hospital e o Parque Municipal Telmo José Schardong. 

Neste ano, o projeto foi contemplado com o Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX).  “Assim que sair o resultado do FIEX, a gente pretende abrir uma seleção de bolsistas”, conta Danilo. Além disso, os acadêmicos da UFSM podem se tornar voluntários – para isso, basta entrar em contato através do e-mail do coordenador: danilo@ufsm.br

Por que as abelhas são tão importantes?

O cuidado com as abelhas vai além do preparo para a colheita do mel. Esses insetos têm influência no bem estar social, de todo o mundo. Responsáveis pela polinização de quase 75% das espécies vegetais, as abelhas ajudam com a produção de frutas, verduras e grãos. Nossa alimentação depende das abelhas, sem a polinização, a disponibilidade de alimento seria diminuída. Segundo Danilo Freitas, quando uma abelha trabalha em plantações de soja, a produção pode aumentar de 30 a 40%.

A preservação da biodiversidade também é um dos trabalhos desses pequenos insetos. A polinização é fundamental para a diversidade de flora e fauna mundial. Ao polinizar diferentes espécies de plantas, as abelhas garantem diversidade de árvores, flores e vegetações. O manjericão, a jabuticaba e as amêndoas, por exemplo, são frutos da polinização das abelhas. 

As abelhas impactam na economia. A polinização das plantações aumenta a produção alimentar, o que favorece a venda dos alimentos. “Se for pensar em valores, são bilhões de dólares”, comenta Danilo Freitas. A indústria de cosméticos, farmacêutica e de biocombustíveis também pode ser beneficiada, já que muitas de suas matérias-primas são do mundo vegetal. 

O que ameaça as abelhas? 

400 milhões de abelhas foram encontradas mortas no Rio Grande do Sul, em 2019, segundo a Agência Pública. A ação humana é um dos principais causadores da morte dos insetos. O uso de agrotóxicos em plantações ameaça a vida desse animais, afetando a capacidade de orientação, alimentação e levando a morte. “É o principal problema que a gente tem, que acaba causando o colapso da colônia. Isso é quando muitas abelhas morrem e a colônia não consegue se desenvolver mais. Às vezes não causa morte de toda colônia, mas deixa ela muito fraca a ponto de se extinguir”, explica Freitas. 

O desmatamento, também uma ação humana, pode acabar com o habitat natural das abelhas. A morte de árvores e vegetações naturais leva a perda do local de moradia das polinizadoras. Uma colônia instalada em uma árvore, por exemplo, pode entrar em colapso ou extinção com o desmatamento desta. 

As mudanças climáticas, também são causadoras da piora na qualidade de vida das operárias. “As abelhas têm que manter uma temperatura interna na colmeia de 36 °C para sobrevivência das crias. A oscilação de temperatura é muito prejudicial”, exemplifica Fernanda Cristina Mello, coordenadora do “Vamos conversar sobre abelhas?”. Além disso, segundo ela, a falta de estações bem definidas prejudica a florada das plantas melíferas, o que pode levar à deficiência alimentar e a extinção desses insetos. 

RS Norte

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