A RECONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE*
_*Gilberto Jasper*
*Jornalista/[email protected]*_
A fase está tão ruim que a menor notícia de que teremos dias de sol com temperatura “amena” já nos enche de regozijo. Dizem que poderemos ter a ocorrência de uma temperatura de 28°C, o que, pelos padrões das últimas semanas, corresponde a uma temporada de verão em pleno inverno.
Estamos “apenas” na segunda metade de julho. Mas parece um ano muito longo. Nossa saúde é posta à prova todos os dias. A sucessão de temperaturas negativas, associada à umidade e vento, foi um desafio senão inédito, poucas vezes vista com tanta intensidade.
Milhões de conterrâneos gaúchos sucumbiram às águas que varreram municípios, muitos deles jamais atingidos pelas enchentes. Está cada vez mais difícil imaginar-se chegar a dezembro com algum resquício de saudade deste ano estarrecedor. O que os próximos cinco meses nos reservam?
No último final de semana, pela primeira vez, fui ao Vale do Taquari, em Lajeado, depois das cheias de maio. Confesso que a ida deveu-se a um compromisso inadiável porque reluto neste deslocamento por causa do cenário e do relato dos amigos quanto à depressão entre meus conterrâneos.
Apesar de estar perto de Arroio do Meio – minha terra natal – faltou coragem para atravessar a ponte de ferro erguida em tempo recorde pela iniciativa privada. Este mesmo segmento demonizado por quem adoram ver o Estado distribuindo benesses sem fim, bancadas por nossos impostos ao invés de estimular o empreendedorismo.
O que vi, ao longo de pouco mais de 100 quilômetros ao longo da BR-386, supera qualquer vídeo ou foto vista ao longo desde maio da região onde nenhuma casa foi sequer iniciada no Vale do Taquari ou do Rio Grande do Sul. A devastação é impossível de descrever em palavras.
Imensas áreas no entorno de rios, arroios e açudes parecem desertos onde as árvores foram arrancadas junto com a vegetação das proximidades. A paisagem é desalentadora, dura de suportar, muito diferente do vale verde que encantou a todos.
É difícil imaginar de onde as pessoas que perderam tudo – inclusive familiares – terão força para reconstruir. Não se trata apenas de casa, roupas e calçados. Inclui reconstruir negócios e gerar empregos para reaquecer a economia.
Mas restabelecer a dignidade das pessoas será o maior desafio.